terça-feira, 9 de setembro de 2008

Nos subterrâneos do poder lulista

Nos subterrâneos do poder lulista
Não está fácil, mas parece evidente o esforço para abafar o chamado escândalo dos grampos.

Para evitar a ida imediata à CPI dos Grampos, do Ministro da Defesa, Nelson Jobim, Lula o "convocou" para uma viagem a Manaus e a Coari (AM).

Assim o governo espera desviar as atenções da controvérsia gerada pela afirmação do Ministro de que a ABIN comprara equipamentos para fazer escutas clandestinas, o que gerou a reação imediata do chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, general Jorge Félix.

Cabeças sacrificadas
Na presente crise, que se vai tornando uma verdadeira viagem aos subterrâneos do poder lulista, a responsabilidade do Planalto e do governo se evidencia a cada tentativa de apagar o incêndio, ou a cada nova frente de combustão.

Pouco tempo depois do surgimento da denúncia de Veja, Lula, a contra gosto afastou - temporariamente - a cúpula da ABIN. Era, segundo ele, uma medida de "transparência".

Ao se dar conta de que a crise batia por demais à sua porta, o Presidente decidiu oferecer algumas cabeças, a fim de acalmar o Judiciário e a oposição. O espalhafato do afastamento da cúpula da ABIN foi grande e Lula, pouco depois, chegou a afirmar aos repórteres que o assunto estava resolvido.

Mas, vejam bem, a cúpula da ABIN foi demitida... e "caiu para dentro", segundo a fórmula de um bem colocado membro do governo, pois o decreto que afastou os dirigentes da Agência, determinou que estes passassem a dar expediente no Departamento de Assuntos Estratégicos do Gabinete de Segurança Institucional, despachando dentro do Palácio do Planalto.

Sindicância a cargo do acusado
Durante reunião no Planalto, o general Félix, chefe imediato da ABIN, pediu sua demissão ante a afirmação do Ministro da Defesa, Nelson Jobim de que a Agência adquirira aparelhagem para escutas, que está proibida de realizar.

Lula não aceitou o pedido de demissão do general e solicitou ao mesmo uma sindicância interna na ABIN. A sindicância ficou, pois, sob a responsabilidade do general que negou a existência de aparelhos capazes de fazer escutas, existência que, entretanto, se veio a confirmar.

O mesmo general fez então circular versões estranhas de que a espionagem teria sido realizada por ordem do banqueiro Daniel Dantas e num acesso de descaso e escárnio para com a opinião pública afirmou, de modo acintoso, que a única técnica efetiva contra escutas ilegais é calar a boca. Frase própria de uma autoridade de regime totalitário.

PF participa da ilegalidade e investiga
Lula, por outro lado, convocou a Polícia Federal para investigar. Mais uma medida que aparentava seriedade na apuração do ocorrido.

Ora, os desmandos da ABIN não foram exclusivos. Tudo indica que foram realizados em conexão com a PF e boa parte na sede desta. A revista Isto É (10.set.2008) afirma que arapongas da ABIN fizeram seu trabalho de espionagem no Máscara Negra como é conhecido o edifício-sede da PF, em Brasília.

Dezenas de agentes da ABIN participaram da famosa Operação Satiagraha, da PF, a cargo do delegado Protógenes, sem requisição oficial, no âmbito da qual foram espionados 18 senadores, 26 deputados, ministros e altas autoridades do Judiciário.

Tais revelações tiram qualquer seriedade à investigação conduzida pela PF, uma vez que esta teria sido conivente com o próprio delito investigado. Foi o que bem ressaltou o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), ao afirmar que o comprometimento da PF no escândalo a desqualifica para levar a cabo um inquérito.

A culpa das espionagens ilegais é... do SNI
Mas há mais: Tarso Genro, o Ministro da Justiça, defendeu a ABIN, antes mesmo da investigação, afirmando que "a ABIN não é um antro de espiões". Mas reconheceu que a origem dela, no SNI, do antigo regime militar, pode ter feito a ABIN herdar práticas que não combinam com o Estado de Direito e a democracia.

Vejam bem, a velhacaria de Tarso Genro. O que se depreende de suas palavras é que a ABIN não é culpada (logo, Lula também não), mas que algumas de suas práticas que não combinam com o Estado de Direito e a democracia se devem ao regime militar... entenderam?

Faço notar que a própria imprensa ao destacar a hipótese de um antigo integrante do SNI ter realizado a espionagem, passa ao público a idéia de que a culpa está lá, no passado, no regime militar.

O fato é que a ABIN é subordinada ao Presidente Lula, e as práticas, que não combinam com o Estado de Direito e a democracia, nas palavras do Ministro petista, são responsabilidade do Presidente.

Além disso, como relembrei há pouco, tais práticas foram feitas em íntima ligação com a PF e dentro das instalações desta, PF comandada por Tarso Genro. A culpabilidade será igualmente do regime militar?

Operações com fins políticos
Na verdade, a liberdade com que o delegado Protógenes, em conexão com espiões da ABIN, espionou altas autoridades, alimenta as graves desconfianças de que a PF está a serviço de fins políticos. De quem? Será do regime militar... ou do lulo-petismo?

Uma outra nota da reportagem da revista Isto É bastará para esclarecer: a PF se mostrou incapaz de cumprir uma determinação do STF que mandou monitorar as conversas telefônicas do ex-secretário nacional do PTRomênio Pereira, suspeito de participar de um esquema que desviou do Orçamento da União R$ 700 milhões. Em carta dirigida ao STF, a Polícia Federal alegou não dispor de recursos técnicos para promover a escuta telefônica do petista. Entenderam?

Não nos deixemos iludir: o fato ocorreu em pleno governo Lula, num órgão de inteligência diretamente submetido a sua autoridade. Afinal, quem contratou o antigo agente do SNI? Quem lhe pediu para fazer a espionagem? Em benefício de quem: do já extinto regime militar, ou do lulo-petismo no poder?

Arsenal clandestino e explosivo
Segundo a reportagem de Isto É o delegado Protógenes tem em mãos um arsenal clandestino que destrói o governo passado, o atual e o próximo.

Vamos raciocinar um pouco. Que importância tem na cena nacional o delegado Protógenes para se municiar, assim, de informações comprometedoras? É difícil perceber. O que não é difícil perceber é que tais dados são de sumo interesse para o lulo-petismo, que, na pessoa de Tarso Genro, dirige o Ministério da Justiça.

O PT tem mostrado, no poder, sua inclinação e vocação autoritária. A espionagem generalizada nos mais altos órgãos do Poder é apenas um meio de consolidação de um projeto desta natureza.

Por todos estes motivos é que continuo a afirmar que a gravidade do presente caso supera a do Watergate. A responsabilidade de todos estes atos é do Presidente Lula, quer ele soubesse quer não.

Desnecessário será ressaltar que, se o Presidente sabia é muito grave; se não sabia é igualmente grave, pois demonstra que o desgoverno é de tais dimensões que agentes do Estado se sentem à vontade para espionar ilegalmente quem bem entendem.

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sexta-feira, 5 de setembro de 2008

"Grampogate" e a oposição frouxa e cúmplice

"Grampogate" e a oposição frouxa e cúmplice

O blog do jornalista Josias de Souza difunde hoje uma informação de alta temperatura política.

O País, como já tive oportunidade de analisar abaixo, está vivendo um grave momento político e institucional, do qual Lula tenta a todo o custo desviar os holofotes (leia Lula e a "transparência" obscura).

Diversas vozes se levantaram para afirmar que o Estado de Direito sofre séria ameaça e que o regime democrático, com suas regras e instituições, está em perigo.

Atentado
A oposição criticou o governo e três partidos (PSDB, DEM e PPS) assinaram nota conjunta em que rotulam de "atentado a dois dos principais pilares do Estado Democrático de Direito", a espionagem realizada pela ABIN e revelada pela revista Veja. Insistem  os mencionados partidos que o País vive "uma situação de grave crise institucional".

Os líderes partidários que assinam a nota, Senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Roberto Freire (PPS) demonstram também indignação com a "reação frouxa do presidente da República e de seus auxiliares". A capacidade de investigação do governo é classificada em "zero".

A mera hipótese de que o fato não seja esclarecido, frisam os presidentes dos partidos, "faz girar para trás 20 anos a roda da democratização no Brasil" (cfr. O Estado de S. Paulo, 4.set.2008, Escuta é "atentado", diz oposição).

Invectivas e acordos espúrios
Entretanto, segundo revela o blog de Josias de Souza, frouxa - e gravemente frouxa - parece ser a atitude do maior partido da oposição, o PSDB.

Segundo o jornalista, enquanto na superfície a linguagem é dura e cheia de invectivas, nos subterrâneos do poder estaria sendo aberto um canal de diálogo entre o PSDB e o Planalto, a respeito da "crise".

Seria uma conversa "institucional", destinada a debater as implicações das suspeitas que empurraram a ABIN para o pantanoso terreno da ilegalidade, informa a reveladora notícia do blog, que acabou por vazar a articulação.

Na origem de tal articulação, ainda segundo o mencionado blog, estaria a iniciativa do senador Tião Viana (PT-AC), vice-presidente do Senado, que qualificou o encontro de "relevante para as relações institucionais dos dois maiores partidos" (PT e PSDB).

A notícia é alarmante!

Traição e cumplicidade
Ocupantes de organismos do Estado ferem gravemente instituições do Estado de Direito e PT e PSDB se preocupam com as relações institucionais dos dois partidos. Rumo a quê? A um projeto comum?

Um eventual acordo de bastidores entre o PSDB e o lulo-petismo, demonstra, uma vez mais, que o principal partido da oposição não hesita em fazer acordos espúrios e desconhecidos da opinião pública, que acabem por blindar a figura do Presidente Lula e eximi-lo de suas graves responsabilidades.

O PSDB ameaça assim trair as instituições do País e sua missão de oposição, tornando-se cúmplice de um projeto de poder autoritário, cujo mais recente episódio é a espionagem feita a altas personalidades do Judiciário e do Legislativo, ao que tudo indica, por órgãos submetidos ao Presidente da República.

A eventualidade de um acerto espúrio não pode ser descartado, se se levar em consideração que Tião Viana, também grampeado, segundo a denúncia de Veja, logo a seguir às revelações da revista, se apressou em isentar o governo e a Polícia Federal de qualquer participação, bem como o Presidente Lula que afirmou ser "a última pessoa a aceitar uma prática de Estado arbitrário".

Imprensa afasta debate do foco
Infelizmente o debate público, com ponderável ajuda da imprensa, está a ser completamente desviado do seu foco. Discute-se quem tem ou não tem, quem comprou ou deixou de comprar aparelhos de escuta.

O cerne da crise é outro.

A matéria de Veja é clara: a ABIN, órgão submetido à Presidência da República, espionou o Ministro Gilmar Mendes, Presidente do STF, o Presidente do Senado e altas autoridades da República (leia abaixo Escutas no STF e Estado policialesco).

Ora, se a ABIN caminhou para o "pantanoso terreno da ilegalidade", não há como isentar de responsabilidade o Presidente da República. Foi o que bem frisou o Senador Álvaro Dias (PSDB-PR): "A ABIN é órgão ligado à Presidência da República, o presidente é quem nomeia, portanto não há como isentá-lo de responsabilidade"

Essa responsabilidade é inequívoca, quer o Presidente soubesse, quer não. Se Lula sabia da espionagem de altos integrantes dos outros poderes da República é obviamente gravíssimo. Se não sabia, é igualmente grave, pois o Presidente demonstra não controlar delicados e sensíveis organismos do Estado.

O caso dos grampos é tão ou mais grave do que o Watergate, que levou à renúncia do Presidente Nixon, num dos maiores escândalos da política americana.

Voltarei ao assunto.

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quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Lula e a "transparência" obscura

Lula e a "transparência" obscura
A crise é grave, muito grave. Um órgão de Estado, diretamente subordinado à Presidência da República, espionou altos integrantes do Poder Judiciário e do Poder Legislativo.

Não é possível isentar o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva de responsabilidade! Foi o que muito bem apontou o Senador Álvaro Dias (PSDB-PR), um dos espionados.

Uma nota oficial do DEM alertou para a "escalada criminosa do governo de índole autoritária conduzido pelo presidente Lula da Silva", e exigiu respeito à Constituição, ao Estado de Direito e o fim do "estado policial".

A nota do DEM acrescentava ainda que a responsabilidade pelos atos criminosos que se sucedem é do Presidente Lula da Silva, e que a democracia encontra-se à beira do precipício.

Lula acuado

A oposição ameaçou pedir o afastamento de Lula por crime de responsabilidade.

E até na base aliada há quem peça o impeachment do Presidente. Foi o que fez, em discurso na tribuna do Senado, Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR).

Por seu lado, Ministros do STF exigiram medidas claras e inequívocas, tendo o Presidente do Supremo Tribunal Federal, o Ministro Gilmar Mendes, enunciado o desejo de chamar Lula ao Tribunal para explicar-se.

Medidas paleativas
Acuado, Lula precisava, pois, acobertar-se. E, para tal, deitou mão da sua "transparência"... obscura.

Depois de muito relutar, o Presidente decidiu afastar provisoriamente toda a cúpula da ABIN. E, ao mesmo tempo, convocar a Polícia Federal para fazer uma investigação! Enquanto, é claro, Lula finge que não sabia de nada.

Como pode a PF fazer uma investigação isenta e séria, se ela é alvo das mesmas acusações de grampos ilegais, inclusive os últimos em colaboração com os espiões da ABIN?

Lula, na verdade, não quer que se conheça a verdade, deseja apenas contornar a crise política, acalmar a oposição e abafar a investigação.

Afinal, como ressalta matéria publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo (2.set.2008), em casos com o governo, a marca da PF é a lentidão: "Alguns dos mais estridentes escândalos que atingiram personalidades do governo contabilizam anos de investigação sem solução".

Lula sacrifica ABIN para se salvar
Em contundente artigo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo (3.set.2008) sob o título de Fortemente constrangido, a jornalista Dora Kramer explica a reação "transparente" de Lula e põe o dedo na ferida:
  • "O envio da diretoria da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para o altar dos sacrifícios já no primeiro dia útil da crise instalada no fim de semana, quando a revista Veja exibiu prova da existência de uma usina de invasões de privacidades em Brasília, foi entendido como um sinal de rigor e agilidade por parte do presidente Luiz Inácio da Silva.

    Houve, de fato, uma alteração no padrão habitualmente adotado no Palácio do Planalto para a administração de escândalos. Mas nada que autorize entusiasmos com a rapidez e a austeridade da “ação” do presidente da República.

    Primeiro, porque não foi uma ação, foi uma reação. Segundo, não foi rápida e, terceiro, não revelou o vigor e sim a fragilidade de Lula diante de um Supremo Tribunal Federal unido e disposto ao combate, caso se repetisse o roteiro de sempre. (...)

    Desta vez, o governo fez uma passada meteórica pelas preliminares e apresentou logo um suspeito. E por que fez isso? Porque se viu diante de uma emergência: ou fazia alguma coisa logo, apresentava um alvo qualquer, ou se arriscaria a se tornar ele mesmo o alvo de uma artilharia pesada.

    A cobrança pública por providências, desde sábado, não partiu de um Congresso desmoralizado, nem de uma oposição acuada ou de uma opinião pública difusamente indignada.

    Quem pressionava era a cúpula do Poder Judiciário, a guardiã da Constituição, dona da palavra final sobre as leis, a única instituição com poder e credibilidade suficientes para, em determinado momento - não precisava nem dizer, bastava insinuar que o presidente da República hesitava na defesa do Estado de Direito -, levar Lula às cordas. (...)

    A regra, até agora seguida sem exceção, levaria à suposição de que o governo agiu agora de forma diferente porque já dispunha de base sólida para apresentar o suspeito sem correr o risco de transformá-lo em réu injustamente.

    A reação das autoridades ontem em Brasília mostrou que, quem chegou a essa conclusão, precipitou-se. Do vice-presidente da República, José Alencar, ao ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, passando pelo chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, general Jorge Felix, saíram todos em defesa do diretor demitido da Abin, Paulo Lacerda.

    Um homem inatacável, um profissional bom e confiável, uma vítima de armação de gente interessada em desmoralizar a agência foi o mínimo que se ouviu a respeito da pessoa apresentada na noite anterior como chefe dos principais suspeitos.

    Junto a esses elogios, ganharam reforço também as versões sobre a possibilidade de as escutas ilegais não terem sido produzidas dentro do aparelho de Estado, mas por quadrilhas de “ouvidores” (no mau sentido) do setor privado, vale dizer, Daniel Dantas. (...)

    Agora, se vai nessa direção a desconfiança mais forte e se no dia seguinte o governo inteiro põe a mão no fogo por Paulo Lacerda, por que o afastamento em regime de exceção?

    Por qualquer caminho que se vá, chega-se ao mesmo lugar: para proteger o presidente Lula de uma confrontação com o Supremo Tribunal Federal no âmbito onde este é autoridade máxima e àquele cabe submissão absoluta jurada no ato da posse: a legalidade.

    Enaltecido o presidente poderia ser, caso tivesse sido dele a iniciativa de compreender o significado da disseminação dos grampos. Mas tal entendimento não havia ainda se apresentado à cena, a despeito das várias denúncias (inclusive do próprio presidente do Supremo) sobre a propagação da invasão de privacidade da capital da República.

    Apareceu apenas quando a situação foi traduzida para o idioma de Lula, um ás na distinção entre o que pode lhe render benefícios ou lhe causar prejuízos políticos no exercício do poder."
A medida de Lula de afastar (provisoriamente) a cúpula da ABIN e a investigação levada a cabo pela PF (sob o comando do Ministro Tarso Genro) não são provas de "transparência".

São, pelo contrário, sinais da obscuridade repetida que envolve a apuração dos crimes do lulo-petismo, enquanto as instituições do Estado de Direito vão sendo irremediavelmente minadas.

A ditadura "transparente" de Lula e de seu partido estão no horizonte obscuro do Brasil. Este foi mais um passo.

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terça-feira, 2 de setembro de 2008

Escutas no STF e Estado policialesco

Escutas no STF e Estado policialesco
Estamos, uma vez mais, no epicentro de um escândalo envolvendo o governo e o Presidente Lula.

Mas, desta vez, não se trata apenas de um escândalo. O ocorrido constitui grave atentado ao Estado de Direito e foi praticado, ao que tudo indica, por um órgão diretamente subordinado à Presidência da República.

O tão decantado regime democrático vai sendo desmantelado em seus pilares fundamentais, e desmantelado pelo próprio governo que deveria ser seu defensor.

Grampeados pelos espiões do governo
Antes de mais nada, a descrição dos fatos. A revista Veja (3.set.2008) estampou nova grave denúncia sobre grampos ilegais, realizados por espiões do governo, contra o Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e outras autoridades Federais.

A reportagem começa por transcrever um telefonema entre o Senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e o Ministro Gilmar Mendes, Presidente do STF, ilegalmente gravado.

Embora o teor da conversa nada tenha de comprometedor, as reações dos dois envolvidos, face à violação ilegal de sua privacidade por órgãos do Estado, não se fez esperar.

O Ministro Gilmar Mendes foi peremptório: "Gravar clandestinamente os telefones do presidente do STF é coisa de regime totalitário". Por seu lado, o Senador declarou: "Há um grupo de bandoleiros atuando dentro do governo. É um escândalo que coloca em risco a harmonia entre os poderes".

Negativas e inquéritos inócuos

A revelação de Veja se insere na já longa série de alertas e denúncias surgidos contra os abusos de poder praticados pela Polícia Federal e pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN): grampos ilegais, ações espetaculares com indisfarçável intenção intimidatória ou persecutória.

A todas eles o governo tem reagido da mesma forma: pomposas declarações de inconformidade, "indignações" do Presidente Lula, negativas de práticas ilegais, abertura de inquéritos inócuos... e tudo permanece como dantes.

Perigoso desafio à democracia
Convido-os a ler trechos da reportagem de Veja, assinada por Policarpo Junior e Expedito Filho, intitulada A Abin gravou o ministro. Os mesmos são elucidativos e alarmantes:
  • "Há três semanas, VEJA publicou reportagem revelando que o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, foi espionado por agentes a serviço da Agência Brasileira de Inteligência. O diretor da Abin, Paulo Lacerda, foi ao Congresso e negou com veemência a possibilidade de seus comandados estarem envolvidos em atividades clandestinas. Sabe-se, agora, que os arapongas federais não só bisbilhotaram o gabinete do ministro como grampearam todos os seus telefones no STF. VEJA teve acesso a um conjunto de informações e documentos que não deixam dúvida sobre a ação criminosa da agência. O principal deles é um diálogo telefônico de pouco mais de dois minutos entre o ministro Gilmar Mendes e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), gravado no fim da tarde do dia 15 de julho passado. A conversa não tem nenhuma relevância temática, mas é a prova cabal de que espiões do governo, ao invadir a privacidade de um magistrado da mais alta corte de Justiça do país e, por conseqüência, a de um senador da República, não só estão afrontando a lei como promovem um perigoso desafio à democracia.

    O diálogo entre o senador e o ministro foi repassado à revista por um servidor da própria Abin sob a condição de se manter anônimo. O relato do araponga é estarrecedor. Segundo ele, a escuta clandestina feita contra o ministro Gilmar Mendes, longe de ser uma ação isolada, é quase uma rotina em Brasília. Os alvos, como são chamadas as vítimas de espionagem no jargão dos arapongas, quase sempre ocupam postos importantes. (...)

    As gravações ilegais feitas pela Abin servem de base para a elaboração de relatórios que têm o presidente da República como destinatário final.
    Isso não quer dizer que Lula necessariamente tenha conhecimento de que seus principais assessores estejam grampeados ou que avalize a operação. Os agentes produzem as informações a partir do que ouvem, mas sem identificar a origem. Por serem ilegais, depois de filtradas, as gravações são destruídas. A do ministro Gilmar Mendes foi preservada porque, ao contrário das demais, ela foi produzida durante uma parceria feita entre a Abin e a Polícia Federal na operação que resultou na prisão do banqueiro Daniel Dantas, no início de julho. (...)

    O diálogo em poder da Abin foi apresentado ao ministro Gilmar Mendes e ao senador Demóstenes Torres. Ambos confirmaram o teor da conversa, a data em que ela aconteceu e reagiram com indignação. "Não há mais como descer na escala da degradação institucional. Gravar clandestinamente os telefonemas do presidente do Supremo Tribunal Federal é coisa de regime totalitário. É deplorável. É ofensivo. É indigno", disse o ministro, anunciando que vai pedir providências diretamente ao presidente Lula. "Não acredito que a ação da Abin ou da Polícia Federal seja oficial, com o conhecimento do governo, mas cabe ao presidente da República punir os responsáveis por essa agressão", acrescentou Mendes. O senador Demóstenes Torres também protestou: "Essa gravação mostra que há um monstro, um grupo de bandoleiros atuando dentro do governo. É um escândalo que coloca em risco a harmonia entre os poderes". O parlamentar informou que vai cobrar uma posição institucional do presidente do Congresso, Garibaldi Alves, sobre o episódio, além de solicitar a convocação imediata da Comissão de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso para analisar o caso. "O governo precisa mostrar que não tem nada a ver e nem é conivente com esse crime contra a democracia." (...)

    No fim de junho, José Dirceu avisou o presidente Lula que estava sendo vítima de operações ilegais e que suspeitava da ação conjunta da Polícia Federal e da Abin. Em público, o ministro não faz acusações diretas contra ninguém, mas, para o presidente, ele foi explícito: Dirceu acusa o atual diretor da Abin, Paulo Lacerda, e o ministro da Justiça, Tarso Genro, de estarem por trás de um complô para prejudicá-lo, recorrendo a supostas ações ilegais contra ele, inclusive a invasão do escritório. (...)

    O ministro da Justiça estaria usando o aparato policial contra Dirceu para tentar minar sua influência no partido. Paranóia? Talvez. O fato é que a ação clandestina dos arapongas, sejam eles da Abin ou ligados à Polícia Federal, está criando entre políticos, magistrados e autoridades em Brasília um clima que não se percebia desde os tempos do velho SNI, o serviço de inteligência criado no regime militar, que serviu, por mais de duas décadas, como instrumento de perseguição de adversários. Havia mais de um ano que o ministro Gilmar Mendes suspeitava que seus telefones estavam sendo grampeados. Parecia paranóia."
É necessário reagir, pois é  inegável que estamos no perigoso caminho que nos leva ao Estado totalitário, perigo sobre o qual, aliás, tratei em meu último post (A caminho do Estado totalitário).

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