sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Obama e o antiamericanismo

Obama e o antiamericanismo
Quem nestes dias lê os jornais, assiste a noticiários de TV, ou acessa portais de notícias da Internet (para não falar de blogs), se depara com inúmeras matérias relativas às próximas eleições americanas.

E não é muito difícil perceber que as preferências, as simpatias, as complacências dirigem-se quase sempre a Barack Obama.

Obama é apresentado como carismático, alguém que vai trazer uma "mudança". Uma "mudança" para os Estados Unidos e o mundo, uma "mudança" que ninguém é capaz de precisar, mas que parece quase mágica.

Um despacho da France Presse até asseverava que a "Obamania" invadiu o mundo, mas essa popularidade não significa que suas idéias sejam conhecidas.

8 Leia Obama e a mudança

Enquanto todas as simpatias midiáticas se dirigem, com evidente parcialidade, ao candidato democrata, todas as antipatias e até desprezos se dirigem ao campo conservador, ao candidato McCain e, sobretudo, a sua vice, Sarah Palin. Esta última tem sido alvo de ataques que, se dirigidos a outra pessoa, facilmente seriam qualificados de preconceituosos.

Curiosamente, muitos daqueles que torcem hoje, de maneira desalmada, por Barack Obama, são aqueles mesmos que alimentam um antiamericanismo doentio. Afirmam que o candidato democrata acabará com a "estupidez" americana.

Afinal quem pode deslindar estas contradições? Esse antiamericanismo é mesmo antiamericano, ou se volta apenas contra um modo específico de ser americano? O que significa mesmo a "estupidez" americana? Será um modo de ser, pensar e agir que desagrada a um esquerdismo ora explícito, ora difuso, que acaba por influenciar muitos ingênuos?

Em artigo publicado na Folha de S. Paulo (31.out.2008), sob o título Dilemas do antiamericanismo, Dom Bertrand de Orleans e Bragança, Príncipe Imperial do Brasil e tetraneto de Dom Pedro I, esclarece muitas dessas dúvidas:

  • "De partida para os Estados Unidos, onde proferirei palestra no encontro nacional de "supporters" da TFP norte-americana, decidi debruçar-me sobre o fenômeno do antiamericanismo.

    Na minha juventude, os Estados Unidos espargiam pelo mundo um intenso fascínio. A americanização estampava-se nos modos de ser, vestir e se comportar de muitos de meus contemporâneos.

    A nação norte-americana era portadora de uma modernidade que arredava a tradição considerada "démodé". Uma atmosfera de otimismo e despreocupação inconseqüentes, de progresso risonho, envolvia seu povo e conquistava o mundo.

    Hollywood tornara-se foco desse modo de ser felizardo, auto-suficiente, um tanto vulgar e igualitário e moralmente tolerante.

    Vieram as batalhas culturais dos anos 60 e 70, que culminaram simbolicamente com a derrota no Vietnã. Tal derrota, sofrida mais no campo interno do que na frente de batalha, fruto da propaganda e da mentalidade libertária e pacifista, causou um abalo na estrutura psicológica do norte-americano e assinalou uma inflexão decisiva na sua história.

    Tais inflexões não se dão de chofre nem têm como determinante um único fato. Elas germinam, estendem suas raízes, desabrocham e se consolidam ao longo de anos, às vezes, décadas. Mas determinados acontecimentos têm o condão de cristalizá-las.

    Derrotado, o americano médio se encontrou diante do infortúnio, o qual traz muitas vezes consigo a reflexão saneadora e salvífica.

    Enquanto nas profundidades da mentalidade americana se operava uma rotação fundamental, permanecia, em larga escala, a propensão ao gozo da vida, à displicência, ao comodismo, que se traduzia, ante a ameaça da hecatombe nuclear que assombrava o clima propagandístico da Guerra Fria, no slogan capitulacionista: "Melhor vermelho do que morto".

    O espírito derrotista levou norte-americanos a queimar sua própria bandeira, num sinal público de menosprezo e hostilidade em relação aos valores que constituem o fundamento da nação.

    Mas a metamorfose que se gestava nas profundidades foi emergindo com força incoercível, consolidando, segundo me parece, uma das transformações psicopolítico-sociais de maior vulto na história contemporânea. Em amplos e importantes setores da nação norte-americana brotou um conservantismo político, um senso de coerência, honra e pugnacidade, a par de tendências profundas, saudosas da tradição, tonificantes dos valores familiares e ávidas dos princípios perenes da civilização cristã. Tal transformação incidiu igualmente nas escolhas da linguagem, dos trajes, das maneiras, das residências, dos objetos de utilidade ou de decoração etc.

    Curioso é notar que, paralelamente a tal mudança, o antigo fascínio pelos Estados Unidos foi sendo substituído por um sentimento de acrimônia e até mesmo de hostilidade. O antiamericanismo passou a ser militante em vastos círculos dirigentes e difuso em certas camadas do público.

    Os Estados Unidos, considerados outrora fonte da modernidade, passaram a ser apontados como retrógrados e obliterados, e contra eles se alimentaram parcialidades, má-vontades e intransigências.

    No presente momento, um fato desconcertante irrompe em cena. Esses focos de propaganda e militância antiamericana são agitados por um verdadeiro oba-oba pró-Barack Obama: o homem da "mudança", de uma "mudança" que ninguém se abalança a definir, nem ele próprio, mas que esses círculos parecem almejar para os Estados Unidos e o mundo.

    Como esse antiamericanismo rançoso se transmuta e se torna pró-americano? Dou-me conta de que ele não constitui uma manifestação simplista de nacionalismo ou de antiimperialismo, mas traz involucrada profunda animadversão ideológica. Volta-se contra um certo tipo de EUA.

    Revela um mal-estar ante o fato de parte muito considerável e dinâmica da sociedade americana (com forte pujança entre os jovens) ter aderido a tendências, ideais e princípios conservadores, no sentido mais amplo do termo.

    A torcida pelo candidato democrata é, para mim, sintoma do desejo desenfreado de certas máquinas político-propagandísticas de inverter essa conjuntura. A eventual vitória de Obama será o fruto de uma gigantesca operação de propaganda, à qual não faltaram ingredientes variados, até turbulência financeira. Mas terá ela a capacidade de alterar a realidade profunda da opinião pública norte-americana?"
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quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Eleições municipais: ruiu o "castelo de cartas"

Eleições municipais: ruiu o "castelo de cartas"
O segundo turno das eleições municipais foi a pá de cal no projeto lulo-petista de hegemonia política, com contornos "democráticos".

Não faltarão outras tentativas, mas esta ruiu como um verdadeiro "castelo de cartas", mostrando o quanto as máquinas de propaganda estão desgastadas e a sociedade é avessa às aventuras autoritárias da esquerda.

A meta era transformar as recentes eleições municipais em um plebiscito, que consagrasse a tão proclamada popularidade do Presidente Lula e de seu governo e assegurasse, desde já, a transição de 2010.

Lula se consolidaria como o único político na cena nacional com peso suficiente para indicar um nome viável à sucessão presidencial. Partidos e figuras da oposição sairiam enfraquecidos e minguados da disputa, com dificuldade de ser alternativa ao governismo lulo-petista.

Convido-os a fazer comigo um breve retrospecto.

Popularidade alimentada por pesquisas
Há meses Lula "surfava" numa onda de popularidade, alimentada por pesquisas de opinião cada vez mais desconcertantes.

Os índices de aprovação não paravam de subir e se tornaram acachapantes: Lula beirava os 80% e seu governo 70%. Ao mesmo tempo as pesquisas proclamavam que até os antigos redutos de resistência e oposição a Lula tinham cedido. A própria classe média agora se mostrava favorável ao Presidente e por toda a parte o êxito era incontestável.

Sem qualquer pudor, falou-se até de Lula como o líder político de maior prestígio no mundo.

8 Leia Eleições municipais: dogma virtual

Tais dados de pesquisas, profusamente comentados e repetidos na mídia, além de aceitos como incontestes por muita gente, criavam um efeito psicológico e transmitiam a idéia de que qualquer oposição ao Presidente era inútil e sem futuro. Era necessário conformar-se.

A oposição não encontrava (ou simulava não encontrar) um discurso, mostrando-se e confessando-se desorientada.

Máquina de propaganda regada a petróleo
Simultaneamente, o País era bombardeado regularmente com notícias alvissareiras de achados fabulosos de petróleo.

Planos de exploração do chamado pré-sal, com promessas de aplicação de fundos em educação e saúde, tornaram-se verdadeiras obras-primas de ficção e propaganda política. Com as mãos sujas de óleo, ao estilo de Getúlio, Lula parecia tocar e oferecer uma prosperidade sem limites aos brasileiros.

O Presidente chegou a ser saudado, pelo "companheiro" Chávez, como magnata do petróleo e se aventou a hipótese de o Brasil entrar na OPEP.

Lula aparecia e se proclamava como um predestinado!

A economia ia (ou parecia ir) bem e todos falavam do "momento mágico" que o país atravessava.

Hegemonia endossada pela mídia
Lula reinava isolado na cena política, governando pouco, viajando muito e discursando sem parar. E já tinha carimbado, com sua mão negra de petróleo, a companheira Dilma como sua provável sucessora.

A mídia, quase como um todo, endossava este ambiente psico-político. O clima já era de hegemonia, a ser consagrado nas urnas, de modo devastador e "democrático". Falava-se na "onda vermelha".

A partir de uma vitória eleitoral inequívoca, com um Congresso subserviente e uma oposição desconjuntada, estariam abertas as portas para o aventureirismo político: uma mini Constituinte? Um terceiro mandato? Cada um é livre de fazer suas conjecturas.

O "dogma" da transferência de popularidade
Em face desse quadro de fundo, era necessário jogar todas as fichas - e a máquina do Governo Federal - na presente eleição municipal, para a conquista do maior número de prefeituras, com preferência para os grandes centros urbanos.

Muitos asseveravam que, devido à fraqueza dos partidos e ao carácter personalista da política no Brasil, Lula facilmente transmitiria sua popularidade crescente aos apadrinhados (seus e do governo), antecipando o que aconteceria em 2010.

O Presidente traçou um plano e destacou forças-tarefa de ministros para ativarem a máquina eleitoral, o que foi anunciado até em importantes órgãos de imprensa estrangeiros.

Marta Suplicy, a candidata símbolo
Não é difícil compreender que S. Paulo era, evidentemente, peça-chave nesse jogo. Por isso Lula decidiu envolver-se pessoalmente na disputa.

Tudo indica que a promessa do Presidente a Marta Suplicy foi, no caso de uma vitória assinalada, designá-la como candidata do PT à eleição presidencial em substituição a Dilma Roussef.

A promessa procedia, segundo a lógica simplista do lulo-petismo. O Presidente, com seu prestígio, elegeria Marta prefeita. Depois a designaria candidata à Presidência, transferindo seu imenso potencial de votos e fazendo sua sucessora vitoriosa em 2010.

Pela importância de S. Paulo, pela visibilidade da disputa, pela relevância da candidata petista, pelo empenho pessoal do Presidente, a cidade tornou-se o palco e uma espécie de parábola para o País.

Permitam-me, pois, que analise com um cuidado particular o que se passou na disputa eleitoral pela Prefeitura.

Desconcerto ante o governismo triunfante
Ao ter início a corrida eleitoral já as pesquisas apresentavam Marta Suplicy liderando com uma vantagem folgada.

No campo da oposição instalava-se uma briga intestina, com duas candidaturas que se digladiavam, parecendo perder o rumo e desacreditando essa mesma oposição. Essa discórdia só gerava desconcerto e desânimo na faixa de público que não aderia ao lulo-petismo.

Enquanto só o PT (com o apoio de Lula) parecia prosperar sem problemas, as intenções de voto de Marta cresciam e falava-se até em vitória no primeiro turno. O Presidente dizia acreditar nisso e convocava a militância para "liquidar a fatura" logo.

Lula veio fazer carreatas com a candidata e no ar ficava a sensação da inoperância de todas as forças políticas perante o governismo triunfante.

Como disse, tudo (do governo à oposição) era uma parábola para o País.

Urnas desmentem pesquisas
Chegaram as eleições. Marta mantivera a liderança nas pesquisas do primeiro ao último dia... e na boca de urna. Surpresa! Kassab venceu o primeiro turno.

O desmentido fragoroso das pesquisas tinha igualmente um lado de parábola em relação a Lula. Não seriam também inconsistentes as pesquisas da popularidade de Lula? O que é fato é que as urnas desmentiram essa popularidade. E não só em S. Paulo!

Com resultados bem desfavoráveis por todo o País, era necessário tentar virar o jogo em S. Paulo. Uma vitória de Marta ainda podia dar certo fôlego ao lulo-petismo.

Sai de cena o "paz e amor"
Com o segundo turno, a máquina comandada por Lula, tirou a máscara, e mostrou do que é capaz na briga política. Ou seja, deixou evidente que o lulo-petismo apenas usa o sistema democrático para atentar contra ele e, se possível, eliminá-lo.

O Presidente designou seu secretário-particular, Gilberto Carvalho, para coordenar a campanha de Marta Suplicy. Tinha início a fase dois.

Logo em seguida, dez ministros desembarcaram em S. Paulo para subir no palanque com a candidata. Nos discursos transpareceu todo o rancor autoritário do lulo-petismo.

Para Dilma Roussef, crer na vitória contra o PT, era "prova de soberba, de elitismo e descompromisso com a democracia".

Tarso Genro atacou os tabus conservadores da elite e disse que a candidata era alvo de preconceito.

Luiz Dulci afirmou não ser possível ter uma das maiores metrópoles do mundo na mão de um síndico conservador.

Para Aldo Rebelo, vice de Marta, "São Paulo se transformou no último barco à deriva para os náufragos das forças conservadoras do Brasil".

Carlos Lupi mostrou inconformidade "em ver São Paulo na mão de uma direita disfarçada".

Não sei se percebem que no léxico político do lulo-petismo ser da elite ou ser conservador e de direita é, de si, quase um crime. As forças conservadoras não têm vez na "democracia" do PT.

Veio depois a baixaria da propaganda do horário político. A campanha da petista investiu com insinuações a respeito da vida particular de Kassab. E Marta, em entrevista televisionada, encenou a farsa do "eu não sabia".

O lulo-petismo e seu braço sindical infiltraram e tentaram manipular uma manifestação de policiais civis em greve, instigando um confronto armado com a Polícia Militar, nas proximidades do Palácio do Governador, que esteve a ponto de causar uma tragédia de gravidade incalculável.

Num último extertor de desespero, o lulo-petismo clamou pelo socorro de sua verdadeira força inspiradora: a "esquerda católica". Mais de 100 padres assinaram um documento que deveria ser lido nas paróquias para dar apoio explícito a Marta Suplicy. A manobra foi arquitetada por Gilberto Carvalho (ex-seminarista e elo de ligação do governo com a CNBB) e D. Pedro Luiz Stringhini.

A indignação nos meios católicos foi de tal monta que o bispo auxiliar de S. Paulo teve que recuar e pedir desculpas públicas.

Lula, terminou a campanha ao lado de Marta, com discurso agressivo e populista e envergando uma camisa vermelha ao estilo "chavista".

"O jogo virou de ponta-cabeça"
Os resultados do segundo turno são conhecidos de todos. O desvelar do lado agressivo e esquerdista da candidata de Lula fizeram aumentar o repúdio do eleitorado. A derrota foi massacrante. Ruiu o "castelo de cartas". A parábola, era também a imagem do lulo-petismo em boa parte do País.

Dias antes do segundo turno, na previsão do que aconteceria nas urnas, Raymundo Costa, escreveu no jornal Valor (21.0ut.2008): "Enfim, o jogo que era armado antes da eleição virou de ponta-cabeça e recomeça em outras bases".

E a jornalista Dora Kramer, no jornal O Estado de S. Paulo (24.out.2008), dois dias antes do segundo turno afirmava, em artigo intitulado Quadrilátero da saia-justa:

  • "De cada ângulo que se olhe, essa eleição municipal revela fatos e consolida evidências que derrubam teorias eleitorais recentemente elaboradas a partir de um único dado: a popularidade do presidente Luiz Inácio da Silva.

    A campanha do segundo turno revogou a crença inabalável de políticos e marqueteiros na doutrina "paz e amor" ....

    No primeiro turno as urnas já haviam derrubado o mito do "poste", desmentido assertivas sobre a transferência automática de votos e arquivado a idéia do Palácio do Planalto de transformar o resultado da eleição de prefeitos numa interpretação plebiscitária sobre o governo Lula, com o objetivo de estabelecer desde já as balizas para a armação do jogo da sucessão presidencial em 2010."
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quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Sites milionários

Sites milionários
A verdadeira farra com o dinheiro público é algo que não tem limites no governo petista.

Acabo de ler, na coluna Direto da Fonte, da jornalista Sonia Racy, em O Estado de S. Paulo (23.out.2008), uma informação de estarrecer. A Presidência da República vai gastar R$ 11 milhões para refazer seus sites na internet.

Sabem o que isto significa? Uma soma astronômica, injustificável. Leiam:

  • "Visual Virtual

    Por R$ 11 milhões, a Presidência da República vai repaginar seus endereços na internet. O objetivo principal, segundo o edital, é obter... investimentos estrangeiros."
Onde está a oposição para coibir este e muitos outros abusos? Não está...

Sei que há gente inconforme com fatos deste naipe, mas que acaba por atribuir tudo à "corrupção". Ela existe e é grave. Mas no PT a corrupção é ideológica!

É bom não esquecer que atualmente o Supremo Tribunal Federal está em curso um processo contra uma organização criminosa, que visava implantar um projeto de poder. Organização essa composta por altas figuras do governo do Presidente Lula e do seu partido, o PT.

Entretanto, o Presidente ainda cometeu o acinte de afirmar, nesta campanha eleitoral: "Em 2005, veio a guerra contra o PT. Vocês sabem o que nós passamos, vocês sabem as infâmias, as leviandades. Vocês sabem quantos companheiros nossos foram crucificados antecipadamente" (cfr. Lula lembra mensalão e ataca rivais, O Estado de S. Paulo, 1.set.2008).

E contrapôs as "infâmias e leviandades" à "popularidade" de seu governo. Sabem, na ética petista, popularidade, ainda que seja de pesquisa, releva crimes! (leia abaixo Eleições 2008: dogma virtual).

Mais uma vez: onde está a oposição? Não está...

Voltarei a este tema.

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terça-feira, 21 de outubro de 2008

Obama e a "mudança"

Obama e a "mudança"
Dei a este blog o nome de Radar da Mídia. Um nome que transmite a idéia de detectar nela notícias relevantes, comentários oportunos, tendências marcantes.

Confesso que este Radar também detecta muitas vezes na mídia fatos e posturas surpreendentes.

Distorções, inverdades, contradições
Para dar um exemplo, bem recente. Não entendo como órgãos de imprensa - tidos como sérios - continuam a repetir que o PT foi o grande vitorioso das recentes eleições municipais, quando tal afirmação contraria a evidência mais elementar dos números e da realidade eleitoral (leia abaixo Eleições 2008: dogma virtual).

Há certas distorções, inverdades, silêncios, contradições que surpreendem, sobretudo em órgãos que se pretendem imparciais.

Histeria
O mais gritante exemplo, nos últimos tempos, é a verdadeira histeria pró-Obama que tomou conta da mídia, quase no seu todo.

Uma histeria tão desproporcionada que parece encerrar em si alguma coisa não revelada. Afinal qual a razão de tanta torcida?

A histeria tem sido de tal monta que, há pouco, obrigou o vetusto "O Estado de S. Paulo" a um vexame jornalístico.

Um titular na primeira página anunciava a derrota de Sarah Palin no debate dos candidatos a vice. No dia seguinte um novo título, na primeira página, afirmando que Sarah Palin tinha ido muito bem no debate. Uma reviravolta.

Fiquei com a sensação de um título (o primeiro) produzido de antemão, antes da própria realização do debate.

Mudança: um slogan mágico
Agora um novo fato, pela contradição que encerra, é característico desse histerismo da mídia.

A frenética campanha pró-Obama tem insistido muito em que o candidato democrata é o homem da "mudança". Uma "mudança" que nem ele, nem ninguém define muito bem, mas que se tornou quase um slogan mágico.

Obama traria a renovação aos Estados Unidos. Seria a resposta às tão "desastrosas" políticas do Presidente Bush, com alvo preferencial na guerra do Iraque que, contra toda a evidência, a mídia continua a qualificar como perdida.

Apoio de Colin Powell
O Senador do Illinois, Barack Obama, acaba de receber o apoio de Colin Powell, ex-Secretário de Estado e uma das mais importantes figuras do primeiro governo Bush. O candidato democrata já promete um lugar no seu governo ao novo adesista.

O general Colin Powell, foi exatamente uma das bête-noire da guerra do Iraque (que Obama condenou), o homem que na ONU defendeu a invasão do país, com base em dados de inteligência que comprovariam a existência de armas de destruição em massa.

Curiosa a "mudança" que Obama promete. Recebe, como decisivo, o apoio de uma das figuras de proa do governo que ele critica e de um artífices do lance de política externa que ele mais atacou.

Curiosa também a "mudança" da mídia.

Colin Powell, atacado outrora sem piedade, passou agora a ser o "general que dirigiu com glória a primeira guerra do Golfo", "um militar laureado", "um influente político conservador" (até conservador passa a ser bonito!).

O que diria a mídia se Colin Powell tivesse dado seu apoio a John McCain?

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segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Eleições 2008: dogma virtual

Eleições 2008: dogma virtual

Já notaram que entramos na era em que a pesquisa de opinião se tornou dogma?

Analistas, especialistas, comentaristas... etc. se referem às pesquisas de opinião, tecem considerações sobre as mesmas e praticamente não as questionam.

Nesta nossa época de tanto relativismo moral, ideológico e prático, contraditoriamente, elas são aceitas quase como uma verdade de fé.

Pesquisas, as grandes derrotadas
Neste pós-eleição municipal, as grandes derrotadas foram exatamente as pesquisas de opinião.

Não vou aqui me estender sobre o assunto, mas este não é um caso isolado. Em todo o mundo, pesquisas de opinião têm sido fragorosamente desmentidas, o que deixa uma pergunta no ar, à qual é difícil fugir: não se tornaram as pesquisas um meio de manipulação da opinião, nos regimes democráticos?

É preciso não esquecer que as pesquisas de opinião, além dos erros inerentes a toda a atividade humana, podem também ser manipuladas. Da maneira de formular as questões, ao modo e às circunstâncias de abordagem dos entrevistados, da indução à resposta, ao universo consultado e, por fim, da seleção das entrevistas a serem computadas na elaboração final da pesquisa.

Nos famosos métodos das pesquisas, há uma miríade de formas e fórmulas para falsificar pesquisas ou deturpar-lhes o sentido.

Conta-se que Churchill, o grande e aristocrata primeiro-ministro inglês, que se opôs heroicamente a Hitler, afirmava de modo irônico que, em matéria de estatísticas, só acreditava nas que ele mesmo falsificava.

Pesquisas X realidade: confronto inevitável
Há dias, dois institutos de pesquisa apresentavam resultados bem dissonantes dos resultados eleitorais.

Vieram então a público "explicar" o motivo de tal discrepância. A mesma se deveria à diversidade dos métodos utilizados. Logo, digo eu, os métodos de pesquisa alteram os resultados. Mas alteram também a realidade?

Pretende-se que a pesquisa seja um retrato fiel da realidade, mas se a diferença de métodos leva a imagens diversas da realidade, alguma coisa está errada... e não será a realidade.

Fica a dúvida: as pesquisas serão sempre um retrato fidedigno da realidade sobre a qual se debruçam?

Para as pesquisas de opinião política há, entretanto, um problema grave. É que elas são muitas vezes confrontadas com a manifestação direta do público. E todos nós passamos da suposição ao fato incontestável.

Lembram-se do plebiscito do desarmamento? Pois é, a realidade, foi bem diversa da ficção apresentada pelas pesquisas.

Urnas desmentem pesquisas
Temos agora um fenômeno idêntico. Em diversas cidades importantes as pesquisas foram as grandes derrotadas. No momento, cito apenas três: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Em São Paulo, Marta Suplicy venceria de qualquer forma. Chegou até a cogitar-se em vitória definitiva no primeiro turno. Haverá 2º turno e Marta amargou um segundo lugar.

No Rio de Janeiro, segundo as pesquisas, Eduardo Paes não tinha chances e Crivella passava com segurança ao 2º turno. Paes venceu, e Crivella foi varrido por Gabeira.

Em Belo Horizonte, a candidatura de Márcio Lacerda (PSB), da tão decantada aliança do PT e do PSDB, apoiada pelo governador Aécio Neves (PSDB) e pelo prefeito Fernando Pimentel (PT) seria esmagadoramente vencedora no 1º turno. Não venceu e o adversário, do PMDB, Leonardo Quintão, quase empatou (a respeito de tal aliança PT-PSDB, ler abaixo Aliança governo-oposição).

Mas... sempre há um "mas", para tentar explicar o inexplicável. Há pouco folheei o caderno "Eleições 2008" do jornal O Estado de S. Paulo (6.out.2008) e deparei-me com matéria intitulada: Urnas contrariam pesquisas, mas especialistas negam falhas.

O título é quase delirante. Ou seja, a realidade palpável do voto desmentiu as pesquisas, mas as pesquisas é que diziam a verdade.

Lula não elege apadrinhados políticos
Mas há um outro importante aspecto nestas eleições, sobre o qual gostaria de chamar a atenção, e que, uma vez mais, diz respeito a pesquisas de opinião.

O presidente Lula, segundo as pesquisas, tem um nível de popularidade pessoal de mais de 80% e seu governo goza de um nível de aprovação beirando os 70%. Um jornal, considerado sério e credível, o já mencionado O Estado de S. Paulo, chegou a classificar o presidente, em um de seus editoriais, como o líder mais popular do mundo!

Entretanto, com essa tão decantada e estratosférica popularidade, Lula não consegue eleger seus apadrinhados políticos, nos locais mais chaves para a política nacional.

Afinal, no que consiste a popularidade de um líder político? Exatamente em obter apoio para seu modo de fazer política, para suas idéias, para seus projectos para o País.

É verdade que as eleições municipais, sobretudo nas cidades de menor porte, têm conotações locais e pessoais que as tornam muito peculiares e diversas vezes pouco representativas da realidade política do país.

Mas, nas grandes capitais, apesar de certas circunstâncias locais, é evidente que está em jogo o destino político da nação.

Ora, Lula engajou seu prestígio pessoal a favor de diversos candidatos e, além disso, colocou seu governo em peso para apoiá-los, mas não obteve, nem de longe, os resultados almejados.

Mais ainda, quando Lula apareceu em público dando apoio alguém, houve até um decréscimo na força política desse apadrinhado.

Não vou estender-me demais. Apenas menciono alguns exemplos.

Exemplificando
Em São Paulo, Lula nunca escondeu a importância para ele e para o PT da eleição de Marta Suplicy. Afirmou mesmo que acreditava na possibilidade de vitória da candidata, já no primeiro turno. Para isso veio participar de carreatas ao lado dela. E o que aconteceu? Marta caiu e foi para o segundo lugar.

No Rio de Janeiro, Lula e Sérgio Cabral começaram por apoiar Molon, o candidato do PT. Este obteve apenas magros 6%. Ao perceber as poucas chances de Molon, Lula também não escondeu - nem muitos de seus ministros - suas abertas preferências por Crivella. O ministro Mangabeira Unger afirmou pouco antes da eleição que Crivella tinha o projeto político mais afinado com o Governo Federal. Crivella não passou para o segundo turno.

Em Curitiba, o Governo Federal deu seu apoio maciço a Gleise Hoffmann (PT), e a cidade era peça-chave na estratégia governista. Dilma Roussef foi a Curitiba e empenhou todo o seu prestígio de provável candidata presidencial de Lula. Resultado, um devastador 77,27% de votos para Beto Richa contra os 18,17% da candidata do PT e do Planalto.

Em São Bernardo, Lula decidiu subir no palanque do ex-ministro Luiz Marinho (PT), para obter uma vitória histórica para o sindicalista, já no primeiro turno. Investiu todo o prestígio, com um empenho não visto em outras cidades, apresentando-se como cabo eleitoral, dirigindo pesados ataques ao atual prefeito. Especulou-se até que o empenho de Lula para uma vitória arrasadora, seria favorecer uma futura candidatura de Marinho a governador de São Paulo. Haverá 2º turno.

Em Natal, Lula também subiu no palanque, para dar apoio à petista Fátima Bezerra. Ali proferiu um dos discursos mais agressivos de sua campanha e garantiu que sua apadrinhada venceria Micarla de Souza, apoiada pelo senador Agripino Maia, líder do DEM no Senado. Micarla obteve 50,84% dos votos, vencendo no 1º turno e impondo um vexame eleitoral ao Presidente.

Há mais, mas fico por aqui.

Manipulação sem limites
Estamos diante de uma realidade inequívoca: Lula não consegue mover o eleitorado para votar em seus apadrinhados e, no fundo, apoiar seu projeto político. É um fato incontestável. Esse fracasso ainda se acentua mais se o confrontarmos com a estratosférica popularidade, alardeada pelas pesquisas.

Apesar deste fato clamoroso, continuam a nos bombardear com o dogma de que Lula é popularíssimo, e conta com mais de 80% de aprovação.

Tentam interpretar a realidade palpável dos votos, dizendo que, no fundo, ela não é aquilo que parece ser: ou seja, o desmentido fragoroso da proclamada popularidade política de Lula.

Impingem-nos, como dogma virtual, a "realidade" impalpável de uma vaga pesquisa. E nos reinterpretam a realidade palpável do voto do eleitorado. A manipulação parece não ter limites.

A isto se chama prestidigitação! Aqueles famosos truques, para embair crianças, que se apresentavam nos circos: tirar coelho da cartola e outros do gênero.

Ah, antes de terminar ainda uma pequena nota. Segundo a famosa pesquisa que constatou a popularidade recorde de Lula, sabem qual foi o motivo principal para esse apoio do público? A descoberta do petróleo do pré-sal.

Convenhamos, descoberta de petróleo não é fundamento consistente de popularidade de líder político, está mais para popularidade de presidente... da Petrobrás.

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quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A ordem partiu do Planalto

A ordem partiu do Planalto
Afirmei, diversas vezes, que o atual escândalo da espionagem ilegal - levada a cabo, em conluio, pela PF e pela Abin - é mais grave do que o Watergate, que derrubou o Presidente Nixon.

Afirmei e repito, pois, no Watergate, a espionagem voltou-se contra o Partido Democrata, o que de si é grave.

Mas, no presente caso, a espionagem ilegal se voltou contra o Presidente do STF, diversos outros ministros da Corte Suprema e contra dezenas de senadores e deputados. Ou seja, contra autoridades constituídas. Além de se ter voltado contra jornalistas.


Lá, como aqui, houve obstrução às investigações para apurar o delito.

A comparação com o Watergate poderia ser tachada de um pouco sensacionalista, mas ela se consolida a cada dia, pois à medida que avançam as investigações ruem todas as versões oficiais sobre as ações clandestinas de escuta e monitoramento de autoridades.

"Podemos suspeitar que a PF tenha sido usada com objetivo político pelo governo", afirmou o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), uma das autoridades espionadas.

Presidente do Supremo espionado
A desembargadora Suzana Camargo, vice-presidente do Tribunal Regional da 3ª Região, em São Paulo, confirmou aos investigadores que o Juiz De Sanctis lhe disse que recebia informes do que se passava no gabinete do presidente do STF.

Portanto, além de ter seus telefones grampeados, o ministro Gilmar Mendes foi monitorado pela espionagem oficial.

Saberia o juiz De Sanctis dos métodos empregados? É pública e notória sua proximidade com o delegado Protógenes Queiroz, responsável da Operação Satiagraha.

Mais de 50 agentes
Lembram-se que Tarso Genro teceu louvores à Abin e afirmou que ela não era um antro de espiões? Lembram-se também da afirmação de que, se houve algo de errado, se deveria a um ex-integrante do SNI, que nem sequer estaria mais ligado à Abin? (leia abaixo Nos subterrâneos do poder lulista).

Bem, as mais recentes informações do inquérito que investiga o grampo ilegal da conversa do presidente do STF, Gilmar Mendes, com o senador Demóstenes Torres, constatam que o número de agentes da Abin que trabalhou, de modo "informal", na Opearação Satiagraha é superior a 56.

Esses agentes, além de monitorarem os investigados, manusearam transcrições de grampos e, com base nos mesmos, elaboraram relatórios secretos.

Investigação dos investigados
O presidente Lula, para manter a "transparência", decidiu afastar a direção da Abin. Mas esta "caiu para dentro" e hoje dá expediente no Planalto, no Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), o órgão a quem está subordinada a Agência.

Mais curioso ainda, os diretores afastados participam das reuniões sobre a sindicância em curso na GSI, para apurar o caso dos grampos. Ou seja, os investigados participam da investigação. Transparência!

Uma ordem emanada do Presidente
Mas, afinal, indagará alguém, no caso do Watergate a responsabilidade do presidente Nixon ficou comprovada. Entretanto, no presente caso nada se sabe a respeito da responsabilidade do presidente Lula.

Volto a repetir que, se Lula de nada sabia, é gravíssima sua responsabilidade, já que órgãos de Estado, submetidos a sua autoridade, se acham no direito de violar abertamente a lei e espionar altas autoridades do país.

Entretanto, as responsabilidades diretas começam a despontar.

Segundo a Folha de S. Paulo (1.out.2008), em declarações ao Ministério Público, o delegado Protógenes Queiroz, afirmou que "a investigação que culminou na Operação Satiagraha foi aberta por determinação da Presidência da República ao então diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda" (cfr. Planalto mandou investigar Dantas, afirma Portógenes).

Por sua vez, em entrevista à revista Veja (1.out.2008), o presidente da Associação dos Servidores da Abin, Nery Kluwe, afirmou que os agentes foram envolvidos na investigação acreditando ser uma missão presidencial: "Uma ordem emanada do presidente. Um trabalho do interesse do presidente da República".

Deu para entender? A ordem partiu do Planalto. A missão era do interesse do presidente da República.

As ações ilegais jamais serão desnudadas
Creio que vale a pena transcrever parte da reportagem da revista Veja (1.out.2008), de responsabilidade de Expedito Filho e Policarpo Junior, intitulada A Abin manuseou escutas telefônicas:
  • "As investigações sobre a participação de espiões da Agência Brasileira de Inteligência na Operação Satiagraha já fizeram ruir praticamente todas as versões oficiais inventadas até o momento para tentar justificar a ação clandestina de um gigantesco aparato estatal e paraestatal que atuava à margem da lei. A "colaboração informal", a primeira das explicações oferecidas para justificar a presença de espiões em um caso policial, não resistiu à descoberta de que a ação movimentou um inusitado aparato de 56 agentes com vínculos funcionais com a Abin, número que pode ser bem maior. Agora, descobriu-se – oficialmente – que as atividades dos agentes nem sequer passaram perto da inocente versão segundo a qual eles faziam apenas consultas a bancos de dados. Além de seguirem, vigiarem, fotografarem e filmarem pessoas supostamente envolvidas com criminosos, os espiões do governo produziram relatórios secretos com base na audição de escutas telefônicas. Há um mês, VEJA revelou que arapongas a serviço da Abin grampearam sem autorização judicial conversas telefônicas de várias autoridades de Brasília. A prova do crime era um diálogo captado entre o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás, repassado à revista por um servidor ligado à agência. A Abin nunca admitiu o envolvimento de seus agentes com grampos, mas as provas começam a aparecer.

    A Polícia Federal tem em mãos uma lista de todos os agentes da Abin que participaram da operação. Parte deles já foi ouvida no inquérito aberto para apurar o caso. Os espiões contaram detalhes do seu trabalho, que envolveu setores da agência em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Os depoimentos são mantidos em segredo, mas dois espiões envolvidos já confirmaram ter manuseado grampos telefônicos e mensagens eletrônicas dentro das dependências da Abin. Um deles, encarregado de analisar o material, contou a VEJA que os grampos chegavam em CDs, eram transcritos e transformados em relatórios de inteligência. (...)

    As escutas telefônicas circularam pelos gabinetes da Abin em Brasília e São Paulo. Em entrevista a VEJA, o presidente da Associação dos Servidores da Agência, Nery Kluwe, confirmou que, de fato, os agentes do órgão manipularam escutas telefônicas, mas que não cabia a eles questionar se elas eram legais ou não. Como a missão era oficial, subentendia-se que os grampos tinham origem em autorizações judiciais. Segundo ele, apesar de a operação ter sido completamente atípica, os agentes da Abin acreditavam estar participando de uma missão oficial. "Eles foram chamados para supostamente cumprir uma missão de interesse do presidente da República", diz. A tal ordem de missão, de acordo com o representante dos agentes da Abin, foi repassada pelo ex-diretor adjunto da agência José Milton Campana, afastado pelo presidente Lula depois da eclosão do escândalo (veja a entrevista abaixo). A se confirmar isso, os dirigentes da Abin cometeram um delito ainda mais preocupante. Além de atuarem nas sombras, interceptando ilegalmente telefones de autoridades, também teriam usado o nome do presidente da República para dar legitimidade às operações clandestinas.

    Apesar da gravidade, a depender das investigações do governo, é pouco provável que as ações ilegais dos arapongas da Abin sejam desnudadas. (...)

    Há uma sindicância em andamento no Gabinete de Segurança Institucional, o órgão hieraquicamente superior à Abin, para apurar o caso dos grampos. Os diretores afastados pelo presidente Lula, incluindo o ex-diretor Paulo Lacerda, dão expediente no GSI, inclusive participando de reuniões sobre o caso. O general Jorge Felix, que comanda a pasta, parece não ter percebido ainda que existe um conflito elementar de interesses que impede investigados de participar da investigação."
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quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Quem controla o aparato policial do Estado?

Quem controla o aparato policial do Estado?

O Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Gilmar Ferreira Mendes, voltou a advertir para os perigos da "república da polícia".

Em conferência proferida em São Paulo, a propósito dos 20 anos da Constituição, o ministro alertou para os excessos do aparato policial do Estado, sob o manto do combate à corrupção e ao crime organizado.

O ministro defendeu o Estado de Direito, condenou os "tribunais de exceção" e alertou para o perigo de órgãos do Estado ficarem acima da lei.

Perigoso projeto político
"O aparato policial do Estado hoje está fora do controle", declarou ainda Gilmar Mendes em importante entrevista ao jornal Folha de S. Paulo (29.set.2008).

Na mesma entrevista o ministro afirmou que estava em gestação um perigoso conluio entre a PF e a Abin, para a fusão das duas, que escondia um perigoso projeto político.

A advertência do ministro é muito grave. Ele se pergunta que projeto seria? Não há como fugir à conclusão de que é o projeto político do lulo-petismo, autoritário, ao estilo chavista, que Lula só não impôs ao País, pelas fortes resistências que encontra em partes consideráveis e influentes da opinião pública.

Continuo a afirmar que Lula é um "chavista" dissimulado, ainda que o coro dos otimistas ache a afirmação um exagero. Basta uma análise um pouco atenta e essa verdade salta aos olhos (leia abaixo Lula, o "chavista" dissimulado).

"É preciso dizer basta"!
Mas vamos à entrevista do ministro Gilmar Mendes, concedida aos jornalistas Andréa Michael e Felipe Seligman, da sucursal de Brasília:
  • FOLHA - No caso da Operação Satiagraha, o senhor declarou recentemente que não era legal a atuação da Abin como polícia judiciária.
    MENDES - Disse o seguinte: inicialmente, essa participação foi negada. Depois se disse que houve uma cooperação tópica para assuntos estratégicos. A terceira versão foi a de que participaram dois ou três servidores previamente designados. Em outro momento se descobrem que eram 52 agentes da Abin, e depois 56 agentes, e não sei se paramos por aí. Revela-se também uma quantidade enorme de dinheiro despejado nisso. A Abin não foi subsidiária. Pergunto: pode haver uma cooperação nesse nível? Quem autoriza?

  • FOLHA - Sua opinião.
    MENDES - Entendo que não. Isso é indevido e não estou a discutir provas, estou a dizer: que projeto político se escondia atrás disso? Era criar o quê? Uma super Abin e PF, uma fusão delas duas? Será que foi disso que nos livramos a partir da revelação desses fatos? Que projeto se escondia atrás disso? Que a Constituição não contempla eu não tenho a menor dúvida. Polícia judiciária é atividade da Polícia Federal. Que possa haver alguma cooperação, pode haver. Pode-se considerar como cooperação quando a presença do órgão de cooperação é maior do que a do órgão que recebe o apoio? (...)

    FOLHA - Qual o reflexo disso sobre a legalidade da operação?
    MENDES - Sobre isso nem falo. A questão concreta não tem relevância alguma, a não ser no momento em que ela ilumina o projeto institucional que estava por trás disso. E acho que era extremamente perigoso para a democracia. Uma mente perversa pensou isso.

    FOLHA - Qual é o impacto institucional do grampo telefônico do qual o sr. foi alvo?
    MENDES - No plano institucional, tenho a impressão de que há algum tempo o Brasil denuncia o descontrole dessas áreas e de alguma forma nós até toleramos e legitimamos esse processo, como o vazamento sistemático, a não-punição dessas pessoas. Isto nos demandava uma reação. Mas quando a questão se alçou a esse plano de ouvir senadores, ministros do Supremo, e quando isso se comprovou, então isso chamou a atenção da sociedade e atingiu aquele limite no qual é preciso dizer basta. É preciso que haja uma reação porque nós estamos na verdade no plano do excesso das anomalias. (...)

    FOLHA - Mas quem está fora de controle?
    MENDES - Acho que o aparato policial. Claro que há outros problemas, mas obviamente que se tolerou esse tipo de coisa e o aparato policial, com suas negociações com a mídia, se autonomizou diante do próprio Judiciário.
Quem controla o aparato policial "descontrolado"?
Resta uma pergunta: o aparato policial está mesmo fora de controle? Ou ele está muito bem controlado pelo lulo-petismo, a serviço de um projeto político autoritário e de esquerda?

Tarso Genro, o ministro da Justiça, a quem está submetida a PF é um dos mais importantes (e perigosos) ideólogos do PT;

Luiz Fernando Corrêa, diretor-geral da Polícia Federal, gaúcho como Tarso Genro, é velho conhecido do PT no Rio Grande do Sul, tendo tido sua atuação política dentro do sindicato dos policiais federais; além disso, segundo o antigo dirigente máximo da PF, Paulo Lacerda, Luiz Fernando Corrêa foi nomeado pelo ministro para sustar investigações que pudessem atingir o PT;

O delegado Protógenes Queiroz, que dirigiu a operação Satiagraha, no âmbito da qual foram cometidas ilegalidades, como a espionagem ao Presidente do Supremo Tribunal Federal, estava há dias em Porto Alegre fazendo campanha política com Luciana Genro, do PSOL, filha do ministro da Justiça;

A Abin é diretamente submetida ao Presidente da República.

Afinal quem era a mente perversa que desejava atentar perigosamente contra a democracia?

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