terça-feira, 9 de maio de 2017

Com o STF "os dias são assim"

Com o STF “os dias são assim”


Os acontecimentos precipitam-se no cenário político-institucional brasileiro.

E nesse quadro o Supremo Tribunal Federal é, a cada dia mais, um protagonista desastroso, a fazer crescer a instabilidade da vida pública; um tribunal politizado, desgarrado no choque de opiniões e posturas arbitrárias, ainda que envoltas em empolados votos, de um saber jurídico retorcido e de conveniência.

João Cláudio Genu, José Carlos Bumlai, Eike Batista, José Dirceu, todos eles próximos ao ex-presidente Lula e peças-chave da imensa ORCRIM que, sob a batuta do lulo-petismo, sequestrou o Estado para um projeto de poder autoritário e de esquerda, vão sendo soltos pelo Tribunal supremo do País. Como é voz corrente, a intenção – especialmente de uma trinca de Ministros – é matar a Lava Jato.

Um cadáver difícil de desaparecer
Fernando Gabeira alertava há dias, no jornal O Estado de S. Paulo (05.05.2017), que começa uma fase difícil para a Lava Jato e aqueles que a apoiam, já que “lutar contra uma força instalada no coração do Supremo não é algo comum”. Mas advertia: “O maior escândalo de corrupção foi posto a nu. O corpo é muito grande para três juízes se livrarem dele” (“A suprema emboscada”).

Segundo relatos jornalísticos, a indignação popular explodiu nos telefones e emails do Supremo, sobretudo após a libertação do número dois na cadeia de comando da ORCRIM lulo-petista, José Dirceu. A Presidente do STF Carmen Lúcia teria ficado assustada com o grau de combustibilidade da sociedade e com o aviltamento do Tribunal.

Ministro suspenso e suspeito?
O Ministro Gilmar Mendes, cuja maior preocupação nos últimos tempos parece ser investir contra a Lava Jato e ser complacente com grandes criminosos, ao proferir o voto decisivo para a libertação de José Dirceu, proclamou: “Somos o Supremo!” A frase parece remeter para um Olimpo de “juristocratas”, acima de qualquer preceito ou entendimento legal. Talvez por isso o Ministro ainda atalhou que o Supremo saía engrandecido da decisão e que era preciso dar uma lição ao Brasil.

O Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, solicitou o impedimento de Gilmar Mendes como relator do Habeas Corpus de Eike Batista, a anulação do despacho do Ministro e a declaração de suspeição do mesmo. O que, é evidente, agrava mais ainda a crise institucional.

Roubar "sem perder a ternura"
Guilherme Fiúza, escreveu em O Globo (06.05.2017) um artigo a respeito da questionável atuação do Supremo, intitulado “Nasce o fascismo do bem”. O articulista frisa que “a libertação triunfal de José Dirceu sucede à não menos apoteótica de José Carlos Bumlai, o laranja da revolução”. Com os “supremos companheiros” os “dias são assim”.

Convido-os a ler alguns trechos do referido artigo:

  • José Dirceu, guerreiro do povo brasileiro, está solto. O Supremo Tribunal Federal sabe o que faz. Conforme demonstrado na Lava-Jato — essa operação invejosa da elite branca — do banco dos réus do mensalão Dirceu continuava operando o petrolão. E o maior assalto governamental da história prosseguiu, com formidável desinibição, enquanto o PT ocupava o Planalto. Dilma trocava e-mails secretos com José Eduardo Cardozo para sabotar a Lava-Jato, e seguia o baile. Dilma e Cardozo também estão soltos.

    O bando precisa da liberdade para administrar o caixa monumental que fez com o suor do seu rosto, caro leitor. E o STF é sensível a essa causa. Se todos os líderes progressistas e humanitários estiverem presos, quem vai tocar o negócio mais bem-sucedido do século? O Supremo, no fundo, está protegendo a economia. E você está orgulhoso por patrocinar essa esquadra de advogados milionários que defendem os heróis perseguidos por Sergio Moro. Palocci já avisou que quer uma fatia da pizza de Dirceu.

    O STF tem cumprido seu papel com bravura. Desde os famosos embargos infringentes e refrescantes para os mensaleiros, a corte tem sido impecável. Triangulando com Cardozo e Janot, fez um belíssimo trabalho de cartas embaralhadas e pistas falsas — mantendo o quanto pôde Dilma e Lula fora do alcance da Lava-Jato. Claro que quando Delcídio foi gravado dizendo que ia combinar o “cala a boca, Cerveró” com os supremos juízes, eles deram seu brado cívico — “não passarão!” etc — e prenderam o senador.

    No que ficaram bem na foto (que é o que importa), meteram a mão grande no rito do impeachment na Câmara.

    Os supremos companheiros só não salvaram o governo delinquente de Dilma Rousseff da degola porque a Lava-Jato cismou de trabalhar dobrado entre o Natal e o carnaval. Quando cessaram os tamborins em março de 2016, as delações já tinham provado que não havia uma quadrilha no governo do PT: o governo do PT era uma quadrilha.

    Eduardo Cunha tirou o petrolão do pedido de impeachment, mas não teve jeito — uma fração das fraudes fiscais da quadrilha foi suficiente para configurar o crime. E as obras completas já estavam sendo esfregadas na cara do Brasil, escancarando a receita da maior recessão da História. Mas o STF é bravo, e ainda conseguiu um salto ornamental (especialidade da casa) para manter os direitos políticos da presidente criminosa. Contando, ninguém acredita.

    A libertação triunfal de José Dirceu sucede à não menos apoteótica de José Carlos Bumlai, o laranja da revolução. A série “Os dias eram assim” é linda, e os heróis da TV são esses mesmos que estão no noticiário hoje — com a sutil transição das páginas políticas para as policiais. Talvez na continuação de “Os dias são assim” se possa mostrar que os revolucionários do povo chegaram ao poder 30 anos depois e roubaram o povo, sem perder a ternura.
Foto: Nelson Jr./STF

Um comentário:

Sombra e Luz disse...

O artigo está excelente. Na medida em que inclui outro artigo, em seu interior, que completa a análise, finalizando-a de modo a deixar o leitor a meditar sobre o futuro do andamento da Operação Lava Jato, especialmente depois do depoimento de Lula. Certamente as prescrições da lei no STF estão sendo aviltadas pelos seus representantes, em atitudes e sanções inconstitucionais que já não são mais mascaradas com discursos de bom mocismo, e sim com discursos cínicos.